Uma reflexão sobre os aparentes bons resultados do home office, e a perspectiva quanto a não ser bom para a saúde dos trabalhadores, bem como das empresas.
Devemos olhar com cuidado para a institucionalização do trabalho remoto (home office). O homem é um animal eminentemente social. Como será viver numa sociedade de trabalhadores eremitas? O aparente aumento da produtividade nos processos será bastante para manter a produtividade coletiva e fazer prosperar o negócio empresarial? Como a ausência de interação pessoal e a exigência de atenção contínua irão afetar a saúde dos trabalhadores e das empresas?
Passados 6 meses do “novo normal” imposto pelo confinamento e da mudança drástica no modo tradicional de trabalhar, quando deixamos de frequentar um local comum e passamos a ser verdadeiras ostras domésticas, começam a surgir análises e avaliações de resultados e das consequências.
Ainda é pouco o tempo da experiência global e, portanto, não devemos nos precipitar e interpretar como altamente positivos os resultados iniciais de aumento da produtividade individual dos trabalhadores, ou na redução dos custos com deslocamento e até com locação de espaços empresariais.
Muitas empresas já se propuseram a manter o trabalho remoto até o fim de 2020, e inclusive existem aquelas que se manifestaram no sentido de oferecer a opção de home office indefinidamente aos seus funcionários. Algumas até já partiram para a ação devolvendo espaços físicos comerciais ou redimensionando seu espaço para menos pessoas com postos permanentes no escritório.
O que se está percebendo é que o home office funciona bem individualmente, e a produtividade do trabalhador em casa aumentou.
Isto porque as pessoas se fecham em seus casulos domésticos e trabalham em ritmo acelerado, num horário até mais estendido que quando na empresa, sem parar sequer para o almoço.
Mesmo sem uma determinação formal acontece um aumento na responsabilidade individual quanto ao trabalho, elevando assim seu nível de estresse, o que pode se refletir na estabilidade da vida familiar e social.
Além disso, trabalhar em regime de isolamento absoluto, num ambiente tipo ostra, inibe a otimização do uso do cérebro.
É normal terminar uma reunião virtual muito mais cansado do que após uma reunião presencial, pois numa reunião virtual o indivíduo força seu cérebro a usar toda sua capacidade cognitiva exclusivamente em uma imagem e um som.
Ainda não temos elementos suficientes para mensurar os malefícios desta sobrecarga emocional e intelectual na integridade física e psíquica dos trabalhadores, mas certamente deverão surgir.
A privação de interação social e do contato pessoal, a médio e longo prazo, certamente acarretará a manifestação de desajustes orgânicos e psicológicos, que poderão colocar em risco a saúde das pessoas, e também das empresas, como evidenciado neste artigo de Mariano Andrade.