Estudos recentes mostram que os norte-americanos gastam 30 bilhões de dólares por ano comprando vitaminas e suplementos. No Brasil, 54% dos lares têm pelo menos um indivíduo que consome este tipo de produto. O hábito está baseado na crença de que, dessa forma, o usuário mantém a saúde e evita doenças. Mas, até que ponto essa ideia é embasada em pesquisas científicas?
O médico Francis Perry Wilson acredita que a prática é um desperdício de dinheiro. “Não há nenhuma evidência de alta qualidade que qualquer vitamina ou suplemento tenha algum efeito benéfico em termos de mortalidade geral. Estudos observacionais sobre o uso dessas substâncias são importunados pelo que é conhecido como ´viés do usuário saudável´: pessoas que optaram por tomar vitaminas, muitas vezes adotam outros comportamentos saudáveis”.
No seu artigo “Vitaminas e suplementos são um desperdício de dinheiro”, Dr. Francis cita uma análise baseada em 277 ensaios clínicos diferentes, com quase um milhão de pacientes, que não registrou benefícios reais (cardiovasculares e relacionados à mortalidade) no uso de suplementos e vitaminas. Muito pelo contrário: a suplementação de cálcio combinada com a vitamina D pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral. É importante citar que a qualidade das evidências foi considerada moderada.
Além disso, de acordo com o médico Drauzio Varella, a ingestão de certos micronutrientes em doses diárias mais altas do que as recomendadas (betacaroteno, ácido fólico, vitamina E, vitamina A e selênio, por exemplo), pode aumentar a mortalidade geral e o número de óbitos por câncer e acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos.
Para muitos médicos, o consumo exagerado de vitaminas não pode ser associado a ganhos extraordinários para a saúde do coração e para a longevidade. Isso não é comprovado cientificamente e pode, inclusive, ser perigoso.
O uso de vitaminas como complemento, entretanto, pode sim ser benéfico em casos de deficiências do organismo, no tratamento de algumas doenças, ou até mesmo na prevenção de outras. São exemplos o uso de vitaminas B6 e D na reversão do deficit cognitivo em pacientes com Alzheimer, no tratamento de doenças autoimunes como a artrite reumatóide e o Lúpus, e os benefícios da vitamina C para a pele, cabelos e unhas.
A recomendação dos médicos é que a fonte de vitaminas e minerais seja a alimentação. Uma dieta rica em proteínas e vegetais fornece a quantidade suficientemente saudável para o organismo, enquanto a suplementação pode afetar o equilíbrio fisiológico.
O ideal é que a suplementação seja feita apenas com um propósito específico e recomendada por um médico. O perigo mora justamente no fato de ser de fácil acesso e não necessitar de receita. Isso faz com que a indústria invista em publicidade pesada tentando convencer a população de que todos precisam de vitaminas, e que quanto mais, melhor.
Redação: Marisol de Freitas Vieira
Revisor: Dr. Cláudio J. Trezub
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